A notícia é chocante. A dona de casa Fabiane Maria de Jesus, de 33 anos, morreu na manhã da segunda-feira 5 de maio, dois dias após ter sido espancada por dezenas de moradores do Guarujá, no litoral de São Paulo.
Segundo a família, ela foi agredida a partir de um boato gerado por uma página em uma rede social que afirmava que a dona de casa sequestrava crianças para utilizá-las em rituais de magia negra.
Recebi em um e-mail o link que apontava para um vídeo no YouTube com as imagens do espancamento. Confesso que não tive coragem de clicar para ver a brutalidade e a frieza de uma multidão inflamada querendo fazer “justiça” contra uma suposta suspeita.
O pior do caso é que o retrato falado atribuído a Fabiane havia sido feito por policiais da 21ª DP do Rio de Janeiro (Bonsucesso), em agosto de 2012. Na ocasião, uma mulher foi acusada de tentar roubar um bebê do colo da mãe em uma rua de Ramos, na Zona Norte do Rio. Essa mulher nunca foi identificada. A partir daí, a imagem passou a ser divulgada nas redes sociais como sendo de uma sequestradora.
Os suspeitos de agredir Fabiane ainda não foram identificados pela polícia. Segundo a investigação, não havia casos de sequestros de crianças na região. Fabiane sofria de problemas mentais, mas não tinha qualquer registro na polícia.
De quem é a culpa sobre o crime? Há os que dizem ser dos responsáveis pela divulgação da nota. Hoje vivemos numa revolução da informação causada em grande parte pelo crescimento das redes sociais, onde todos tornaram-se geradores de conteúdo.
Neste ponto entramos em uma questão filosófica e ética do qual nem todos os que estão produzindo conteúdo têm a consciência da responsabilidade sobre o que compartilham ou postam. Publicar sem responsabilidade pode incitar ações desproporcionais e incontroláveis. Isso não é cercear a liberdade de expressão, mas ressaltar o cuidado e o perigo que estão por trás do que escrevemos ou falamos.
Outros colocam a culpa sobre os agressores que foram os agentes da execução. No momento do linchamento, os sentimentos estão em convulsão e as percepções se tornam confusas. Não há compaixão, senão somente o desejo de fazer a pessoa sofrer até onde ela resistir. Cenas de violência desproporcional e descabida contra alguém que nem sabiam quem era ou se tinha feito o que a acusaram.
Não há justificativa para a barbárie, mas vemos como pessoas são mobilizadas pela massa para um ato perverso. Alguém disse que foi ela e então começaram os atos.
Existem aqueles que acham que os que reprovavam aquela cena deveriam ter se manifestado e impedido que aquilo continuasse. Como não se manifestaram, foram coniventes e por isso também se tornam culpados pelo acontecido.
Cada um com sua parcela, uns mais outros menos, revelam uma sociedade enferma. Ver tudo isso deixa o meu coração triste e ao mesmo tempo almejando a solução definitiva para todos os problemas que assaltam a humanidade que é a volta de Jesus.
Uma humanidade dividida e altamente consumista orgulhosa de uma cultura que só pensa em levar vantagens sobre o outro com um tal jeitinho e que afasta constantemente os seus ouvidos do que diz a Palavra de Deus. Com isso, torna-se palco para manifestações de ódio e ira. Hoje falamos de Fabiana e amanhã outros nomes surgirão, infelizmente.
Qual será o limite para tudo isso? Até onde vamos? Reconheço também que essa é mais uma manifestação dos tempos alertados por Jesus: “E, por se multiplicar a iniquidade, o amor se esfriará de quase todos” em Mateus 24:12.
O mundo não está fácil para ninguém. Há alguns anos um relatório da ONU afirmou que 11 milhões de crianças com menos de cinco anos estão morrendo todos os anos – boa parte delas por causa de doenças que podem ser evitadas ou tratadas, como a malária e o sarampo.
O mesmo documento afirma que mais de 800 milhões de pessoas não têm acesso a quantidades suficientes de comida e um quarto das crianças com menos de cinco anos são subnutridas. Esse relatório é uma avaliação dos Objetivos do Milênio, que visam reduzir drasticamente a fome e a pobreza até 2015. E ele ainda conclui que milhões de pessoas estão afundando cada vez mais na pobreza na África, especialmente na parte que fica abaixo do deserto do Saara.
Não há esperança ou expectativa longe de Deus. Eu creio assim e decidi entregar a minha vida para isso. Essa não é a vida que Deus planejou para nós. Ele tem algo melhor e quero lhe convidar para viver confiante de que tudo isso passará.
O conselho de 2 Crônicas 20:20 é “crede no Senhor vosso Deus e estareis seguros” e só nEle estaremos verdadeiramente seguros.
Autor: Rafael Rossi
Fonte: http://noticias.adventistas.org/pt/coluna/rafael-rossi/o-perigo-digital-de-uma-morte-brutal/
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