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quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Médico se desespera por não ter estrutura para atender paciente no DF

Sem condições de atender paciente, médico recebeu voz de prisão.
No meio da discussão, ele desabafou e disse que falta tudo no hospital.

Flávia Alvarenga Brasília
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Um médico entrou em desespero ao receber mais um paciente e não ter estrutura para atendê-lo. O caso aconteceu sábado (19), no Hospital de Base de Brasília, referência no atendimento de acidentados no Distrito Federal. Com o hospital lotado, o médico se exaltou na hora em que os bombeiros chegaram com mais um paciente.

Bombeiro: O senhor está preso por desacato!
Médico: Não tem lugar. Não poso.
Bombeiro: O senhor está preso.
Médico: Não posso, não posso que meus filhos estão em casa me esperando.
Bombeiro: O senhor está preso por desacato.

O paciente tinha caído de um viaduto de 15 metros de altura, tinha traumatismo craniano e várias fraturas pelo corpo. Na confusão, o médico desabafou:
Médico:  Eu tô aqui trabalhando. 
Bombeiro:  Eu sou médico também. Calma, calma. 
Médico:  Cara, eu tô trabalhando, eu tô estressado aqui. Tá faltando tudo. 
Bombeiro:  Eu sei, calma, calma. 
Médico:  Tá falta ndo tudo. Eu quero sumir daqui. 

O médico, que é cirurgião geral, entrou com um pedido de licença por 30 dias e disse que vai pedir demissão. Ele não quis gravar entrevista, mas por telefone disse que as condições do hospital são péssimas. A direção do hospital disse que o atendimento estava acima da capacidade naquele dia e que o médico se exaltou diante da impossibilidade de receber novos pacientes.

O paciente chegou a ser atendido, mas morreu três horas depois. “A gente deveria ter quatro cirurgiões gerais na porta de entrada. A gente só tem dois. Os dois estavam presentes no momento. O que hoje está sendo realmente difícil pra gente é o déficit de recursos humanos”, explica Ana Patrícia de Paula, diretora do Hospital de Base.
O Corpo de Bombeiros explica que não houve omissão de socorro e sim desacato do médico e que, apesar de o Hospital de Base estar lotado, ainda assim era a melhor opção para a vítima. “Geralmente, nós já sabemos a situação do hospital em que a vítima vai ser atendida. Quando há restrição e, mesmo assim, o caso é grave, não se pode falar em não receber o paciente”, afirma o coronel Alan Araújo.

Um homem que presenciou toda a confusão, conta o que viu: “O que notou-se ali era o desespero mesmo, de alguém impotente em poder ajudar da melhor maneira o paciente”.

A Secretaria de Saúde do Distrito Federal disse que há um déficit de seis mil servidores na rede pública e que, desde o início do ano, quase mil profissionais aprovados em concursos foram convocados e já começaram a trabalhar. Segundo a Secretaria, o governo do Distrito Federal já ultrapassou o limite de gastos da lei de responsabilidade fiscal e não pode contratar mais ninguém.

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