Uma seita religiosa travestida de igreja evangélica teve sua organização desmantelada pela Polícia Federal na última segunda-feira, 17 de agosto, após a prisão de seis líderes sob acusação de escravizarem os fiéis.
A Comunidade Evangélica Jesus, a Verdade que Marca está sendo investigada por manter fiéis em propriedades rurais espalhadas pelos estados de Minas Gerais e Bahia, em situações análogas à escravidão.
O pastor que liderava a seita foi preso na cidade de Pouso Alegre (MG), e outras cinco pessoas que estavam no grupo que comanda a organização religiosa foram presas em outras cidades de Minas e Bahia.
Através da investigação, a Justiça autorizou o bloqueio de bens que estavam no nome dos líderes da seita, entre eles, 39 imóveis rurais nos dois estados e contas bancárias de pessoas físicas e jurídicas, além da apreensão de documentos e computadores. A PF também solicitou ao DETRAN que bloqueasse mais de 100 veículos pertencentes à seita, incluindo carros de luxo.
Os líderes religiosos detidos poderão ser indiciados pelos crimes de redução de pessoas à condição análoga à de escravo, tráfico de pessoas, estelionato, organização criminosa, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro, com penas que podem chegar a 30 anos de prisão.
Segundo informações do G1, o delegado da PF em Varginha (MG), João Carlos Girotto, revelou que os fiéis frequentavam um templo da seita em São Paulo (SP) e, após se tornarem frequentes, eram convencidos pelos líderes a se mudarem para o interior do estado, com uma mudança completa de vida “sob a promessa de que viveriam em comunidades onde vigeria o princípio da igualdade absoluta”.
De acordo com Girotto, os líderes pregavam que “todos os bens seriam de todos”, pois quem se tornasse membro, era obrigado a doar tudo que tinha para a denominação: “Ao adentrarem na seita, as pessoas são convencidas a entregarem todos os seus bens, móveis e imóveis, e na sequência são transferidas para fazendas, onde trabalham sem remuneração. Lá eles também têm a liberdade cerceada e, ao irem para as cidades, são escoltadas por membros da seita”, revelou.
As investigações constataram que os fiéis, após se mudarem para o interior, passavam a trabalhar na roça, ou em postos de combustíveis e restaurantes. No segundo caso, os valores que eram relativos aos pagamentos eram repassados à seita. “[Os líderes conseguiam] um lucro exorbitante com o trabalho deles e doações”, disse o delegado, que estima que o patrimônio acumulado tenha superado a casa de R$ 100 milhões, e parte desse dinheiro teria sido convertido em grandes fazendas, casas e veículos de luxo.
A operação, chamada “De volta para Canaã”, em referência ao retorno à Terra Prometida por Deus ao povo hebreu, compreende o cumprimento de 129 mandados judiciais, incluindo seis de prisão temporária, seis de busca e apreensão e 47 de condução coercitiva, além de 70 mandados de sequestro de bens, como imóveis, carros e dinheiro vivo.
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