segunda-feira, 10 de março de 2014

Dilma resolve endurecer com o PMDB...

A presidente Dilma Rousseff se encontrou com o vice-presidente da República, Michel Temer, neste domingo para tentar debelar a crise do PMDB. O que vai acontecer? Ela nem vai se acirrar nem vai se resolver. Fica mais ou menos como está. Uma coisa é certa: rompimento não haverá, como aqui já se escreveu tantas vezes.

Para a reunião deste domingo, Dilma mandou desconvidar os demais interlocutores previstos: os presidentes do Senado, da Câmara e do partido: Renan Calheiros (AL), Henrique Eduardo Alves (RN) e Valdir Raupp (RO), respectivamente. Falará com eles só hoje, em conversas individualizadas.

O PMDB tem dois ministérios a cargo de senadores: o das Minas e Energia, com Edson Lobão (MA), e o da Previdência, com Garibaldi Alves (RN). Dois outros estão ocupados por deputados: o do Turismo, com Gastão Vieira (MA), e o da Agricultura, com Antonio Andrade (MG). Moreira Franco (RJ), da Aviação Civil, da cota pessoal de Temer, também é visto como próximo à bancada da Câmara.

O que querem os descontentes? Mais um ministério para um senador — no caso, Vital do Rego (PB), que gostariam de ver na Integração Nacional. Dilma aceita Vital, mas o quer no Turismo, que já está com o PMDB — e justamente com a ala do partido mais próxima de Eduardo Cunha (RJ), o líder na Câmara e porta-voz dos descontentes. A reforma ministerial é um dos pilares da crise: a presidente chegou a pensar no nome do senador Eunício Oliveira (CE) — com quem também falará hoje — para a Integração, mas ele quer concorrer ao governo do Ceará. Ocorre que, no Estado, Dilma está comprometida com a tentativa de reeleição de Cid Gomes e quer impedir que Eunício concorra, o que também irrita muitos peemedebistas. Antonio Andrade deixará a Agricultura, e a nomeação do substituto pode abrir nova guerra com a bancada do PMDB na Câmara.

Na conversa com Temer, Dilma teria dito que, se preciso, nomeará ministros sem o aval do partido e joga claramente para isolar Eduardo Cunha. O Planalto lançou uma verdadeira operação de demonização do deputado, inclusive na imprensa. Ele é tratado como a síntese de todos os males da política: fisiológico, truculento, chantagista etc. Sempre que o PT precisa que a imprensa bata em algum adversário ou em algum aliado incômodo, sabe como fazer para que isso aconteça.

Bem, eu nunca chamei Cunha de exemplo a ser seguido. Mas pergunto: ele é pior para a política brasileira do que a Família Sarney (MA)? É pior do que Jáder Barbalho (PA)? É pior do que Paulo Maluf (PP-SP) — apenas para citar alguns dos aliados do PT? Eu não quero que vocês se conformem com essas comparações, não! O que estou afirmando é que soa ridículo um partido que protagonizou um escândalo das dimensões do mensalão — com a compra desavergonhada de partidos e de políticos — vir a público atacar Eduardo Cunha como símbolo da falta de ética na política. E o PT? É exemplo de moralidade? E esses outros aliados?

A verdade é bem outra: o PT não está nem aí com a qualidade dos seus aliados. A única coisa que exige para que sejam tratados como monumentos à moralidade é que sejam fiéis e obedientes. Os petistas sabem muito bem que vivem por aí a dizer cobras e lagartos do PMDB, como se o seu próprio partido fosse a morada dos deuses da ética. E, como a gente sabe, não é. As qualidades de Cunha, ou a falta delas, constituem a última das preocupações do PT. O que eles não suportam no deputado é a desobediência.

Por Reinaldo Azevedo

Fonte: www.veja.com.br

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