Na cidade antiga, um comerciante palestino me perguntou se eu queria comprar artefatos de madeira de oliveira. “Estou queimando o estoque”, ele afirmou, enquanto uma escultura de duas mãos em prece ardia em uma fogueira improvisada no meio da ruela. É material ruim, ele disse. Pelo menos aquece as mãos dele, no frio. Dando de ombros, ele colocou uma imagem de Cristo no fogo. “Não, Jesus não!”, um amigo cristão gritou. “Não é Jesus, é só uma estátua”, o mercador respondeu, confuso.
A neve pinta tudo de branco, em Jerusalém, cobrindo os fios elétricos e expulsando os carros das ruas. Assim, a cidade se parece mais, para mim, com o que deve ter sido nos séculos passados. O prazer histórico, somado ao estético, é um desafio para as descrições. Pensei comigo mesmo que a neve, rara na cidade, deve ter participado de episódios marcantes dos anais. Uma rápida pesquisa confirmou a suspeita.
O cruzado Ricardo, Coração de Leão, esteve na Terra Santa durante invernos difíceis. Em 1192, ele adoeceu durante seu cerco a Jerusalém. Ao que seu arqui-inimigo Saladino, conhecido por sua piedade islâmica, lhe enviou neve congelada e frutas para que tivesse água para beber durante a guerra. Uma cena impressionante, como é também forte a imagem, hoje, dessa cidade três vezes sagradas embaixo dos flocos muitas vezes frios.
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