Messias Torres/ Professor - Psicopedagogo (Agricultor) |
A seca que assola o semi-árido nordestino este ano é apontada como uma das mais severas dos últimos 40 anos. Segundo as fontes, isso se deve, além da ausência de chuvas, a uma irregular distribuição das poucas precipitações pluviométricas entre as regiões e localidades largamente atingidas.
É possível afirmar que os danos provocados são, por assim dizer, incomensuráveis, dada a abrangência espacial e temporal do problema. Em outras palavras, a estiagem agora ocorrente não se limita apenas ao tempo de sua duração, pois que seus danos necessariamente se refletem por mais tempo, interpondo-se aos diversos segmentos econômicos e sociais, sob diversos aspectos, impactando a uma população rural e urbana nordestina em torno de 30 milhões de pessoas.
São grandes as perdas nos setores da agricultura, da pecuária e da economia, sem contar todos os prejuízos oficialmente não calculados, porém percebidos e sentidos pelas vidas que padecem na inquietude emudecida de cada recanto deste rincão sertanejo. Com efeito, cite-se o aumento dos preços, principalmente dos itens alimentícios, em função da diminuição da oferta de produtos, o que constitui-se em mais um agravante ao problema.
Na aspereza deste cenário preocupante, pelos olhares profundos e ressequidos, é quando revelam-se os efeitos perniciosos da indiferença histórica das esferas político-administrativas em relação às especificidades desta região do Brasil, que, não obstante ser vitimada pelas próprias características geoeconômicas e climatologicamente desfavoráveis, sobremaneira, sofre com escassez de água e de alimentos quase que periodicamente. Eis um cruel resultado do “argumento da seca”, como fonte de corrupção, patriarcalismo político e manipulação social. Daí explica-se, em parte, a “desnutrição” de um povo... sobrevivente.
Durante décadas, prevaleceu a idéia governamental equivocada de “combate à seca” do Nordeste. Mas o fato é que, por ser um fenômeno natural, sabe-se da impossiblidade de se elimina-lo, senão mitigar suas conseqüências, através de uma metodologia adaptativa às peculiaridades que o configuram. E preciso instrumentalizar e construir uma “Pedagogia”para/com a população habitante do semi-árido, mediante a adoção de medidas públicas para uma nova mentalidade ao enfretamento deste fenômeno. Portanto, invés de “combate à seca”, adote-se a idéia de “convivência com a seca”.
Como importantes e viáveis alternativas para o desenvolvimento das condições de vida no semi-árido, cite-se: construção de reservatórios, barragens subterrâneas e perfuração de poços; monitoramento para a quantidade, qualidade e disponibilidade dos recursos hídricos disponíveis; recuperação e melhoramento de solos; introdução de espécies de animais mais rústicos e adaptados ao semi-árido; implantação de pastagens adaptadas e forrageiras suplementares; implantação de uma política contínua de assistência técnica in loco; incentivo à produção de alimentos em arranjos produtivos locais, dentre outros.
Somente a partir de ações e compromisso público desse nível, é que o Nordeste brasileiro ganhará certamente um outro paradigma, baseado na capacidade de um povo que, apesar de tantos óbices e desafios, consegue (sobre)viver prazenteiro, sem jamais esvanecer-se da interminável esperança que os faz essencialmente mais fortes e humanos.
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