Quando tratamos de corrupção, via de
regra, logo associamo-la ao mau-caratismo nas esferas político-administrativas
e ao ambiente predominante dos chamados poderosos. Tal entendimento, no
entanto, fundamenta-se em uma concepção simplista e irrefletida acerca da
realidade em que se assenta o tema, pois que corromper-se tem um sentido muito mais
abrangente, sendo tudo aquilo que caracterize adulteração de conduta, seja ela
ocorrente em qualquer contexto. Logo, corrupção não se resume apenas à improbidade
de políticos.
Especificamente no caso de Brasil, (um
país oficialmente democrático) políticos e funcionários corruptos resultam,
além da não-educação de seu povo, também e fortemente de uma sociedade
corrompida.
Pensemos, então! Será ético “adoçar a mão”
de um agente fiscalizador para não ser multado? Será ético descumprir regras
quando não se tem a vista a possibilidade de sanção sobre tal descumprimento?
Será ético receber favores pessoais em troca de voto? Será ético omitir ou falsear
declaração para, sorrateiramente, auferir “vantagens” a si mesmo? Por fim, será
ético indiferenciar-se à antiética presente à sociedade, como se não
pertencesse a nós cidadãos o dever de zelar pela integridade moral e pela
incondicional prevalência do que é certo praticar?
Frases corriqueiras do tipo “dinheiro
compra tudo”, “a gente dá um jeitinho”, “vale o que se tem”, etc. revelam o uso
inescrupuloso da corrupção como meio para justificar quaisquer fins. Por esta lógica,
o que importa é “se dá bem”, independentemente do eventual ato ou comportamento
desonesto que se cometa; e assim, atos corruptivos freqüentemente são levados a
feito, sob diversas circunstâncias e nos mais variados contextos sociais, em
cuja prática sobrevém o agravante de que ser honesto é ser “besta”, é ser “fraco”,
ao contrário de que ser desonesto é ser “esperto”, “superior” àqueles que não o
são.
A corrupção encontra-se culturalmente
impregnada na sociedade, contaminando, desde às Instituições, até grupos
sociais e indivíduos, razão pela qual ser tão difícil e improvável combatê-la. Dentre
as dificuldades em se extirpá-la, reside um obstáculo fundamental, referente ao
fato notório de que a maioria de nós se corrompe. Corromper(se), portanto, faz
parte de nossos hábitos; faz parte de nossa cultura; é integrante do nosso “jeito
de viver”. Tanto é assim que, por vezes, mesmo quando ciente de erro,
geralmente surgem tentativas de se justificar uma contravenção cometida, sempre
em meio a um repertório de “argumentos” pífios: “ah não, foi só esta vez”; “dá
pra passar, não precisa ninguém mais saber, fica só entre nós”; “não tem
problemas, isso todo mundo faz”; ou ainda, “não faz mal, não mata ninguém“,
dentre outros mais.
Mas o fato é que, entre a “grande” e a
“pequena” corrupção, o que as difere é apenas a dimensão e a expressividade em que
se configura o ato. Com efeito, ambos os comportamentos constituem-se na mesma
coisa condenável, em que a “grande” corrupção se mistura e se confunde à
“pequena”, ora produzindo, ora sendo produto uma da outra, corroborando, por
sua vez, a promiscuidade dominante na “cultura” desprezível do “vale tudo”! Exatamente
por isso não é coerente, tampouco surtirá em efeitos reais apenas discursar de comprometimento
ético e de moralismo, se não se corrige a aparentemente “pequena” e
“inofensiva” corruptibilidade de que se acometem cada um dos sujeitos comuns nas
ações do cotidiano, em seu ambiente de convivência.
Portanto, se pretendemos que haja
moralidade pública, na mesma medida, combatamos antes alguns dos vícios perniciosos que corroem a
ética e maculam as nossas relações em sociedade.
Messias Torres
Pós-Graduado
em Psicopedagogia
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