segunda-feira, 6 de agosto de 2012

POR; MESSIAS TORRES

                                              “OUTRAS FACES DA CORRUPÇÃO”



Quando tratamos de corrupção, via de regra, logo associamo-la ao mau-caratismo nas esferas político-administrativas e ao ambiente predominante dos chamados poderosos. Tal entendimento, no entanto, fundamenta-se em uma concepção simplista e irrefletida acerca da realidade em que se assenta o tema, pois que corromper-se tem um sentido muito mais abrangente, sendo tudo aquilo que caracterize adulteração de conduta, seja ela ocorrente em qualquer contexto. Logo, corrupção não se resume apenas à improbidade de políticos.

Especificamente no caso de Brasil, (um país oficialmente democrático) políticos e funcionários corruptos resultam, além da não-educação de seu povo, também e fortemente de uma sociedade corrompida.

Pensemos, então! Será ético “adoçar a mão” de um agente fiscalizador para não ser multado? Será ético descumprir regras quando não se tem a vista a possibilidade de sanção sobre tal descumprimento? Será ético receber favores pessoais em troca de voto? Será ético omitir ou falsear declaração para, sorrateiramente, auferir “vantagens” a si mesmo? Por fim, será ético indiferenciar-se à antiética presente à sociedade, como se não pertencesse a nós cidadãos o dever de zelar pela integridade moral e pela incondicional prevalência do que é certo praticar?

Frases corriqueiras do tipo “dinheiro compra tudo”, “a gente dá um jeitinho”, “vale o que se tem”, etc. revelam o uso inescrupuloso da corrupção como meio para justificar quaisquer fins. Por esta lógica, o que importa é “se dá bem”, independentemente do eventual ato ou comportamento desonesto que se cometa; e assim, atos corruptivos freqüentemente são levados a feito, sob diversas circunstâncias e nos mais variados contextos sociais, em cuja prática sobrevém o agravante de que ser honesto é ser “besta”, é ser “fraco”, ao contrário de que ser desonesto é ser “esperto”, “superior” àqueles que não o são.

A corrupção encontra-se culturalmente impregnada na sociedade, contaminando, desde às Instituições, até grupos sociais e indivíduos, razão pela qual ser tão difícil e improvável combatê-la. Dentre as dificuldades em se extirpá-la, reside um obstáculo fundamental, referente ao fato notório de que a maioria de nós se corrompe. Corromper(se), portanto, faz parte de nossos hábitos; faz parte de nossa cultura; é integrante do nosso “jeito de viver”. Tanto é assim que, por vezes, mesmo quando ciente de erro, geralmente surgem tentativas de se justificar uma contravenção cometida, sempre em meio a um repertório de “argumentos” pífios: “ah não, foi só esta vez”; “dá pra passar, não precisa ninguém mais saber, fica só entre nós”; “não tem problemas, isso todo mundo faz”; ou ainda, “não faz mal, não mata ninguém“, dentre outros mais.

Mas o fato é que, entre a “grande” e a “pequena” corrupção, o que as difere é apenas a dimensão e a expressividade em que se configura o ato. Com efeito, ambos os comportamentos constituem-se na mesma coisa condenável, em que a “grande” corrupção se mistura e se confunde à “pequena”, ora produzindo, ora sendo produto uma da outra, corroborando, por sua vez, a promiscuidade dominante na “cultura” desprezível do “vale tudo”! Exatamente por isso não é coerente, tampouco surtirá em efeitos reais apenas discursar de comprometimento ético e de moralismo, se não se corrige a aparentemente “pequena” e “inofensiva” corruptibilidade de que se acometem cada um dos sujeitos comuns nas ações do cotidiano, em seu ambiente de convivência.

Portanto, se pretendemos que haja moralidade pública, na mesma medida, combatamos antes  alguns dos vícios perniciosos que corroem a ética e maculam as nossas relações em sociedade.



Messias Torres

Pós-Graduado em Psicopedagogia

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