Candidatas à prefeitura medem forças na largada eleitoral que promete ser bastante competitiva
A cultura política nordestina tem vários termômetros para medir força ou profetizar quem vai vencer uma eleição. Um deles, é realizar um “censo” em relação à quantidade de gente em convenção e comício. Cada um faz o seu, todo mundo tem sua própria “catraca” à contagem, normalmente eivada de paixão.
Em Mossoró não é diferente.
Mas em verdade, esse experimento é muito mais um produto da mitologia popular do que recurso científico. É artifício de marketing sertanejo. A eleição é que, de fato, decide tudo. E não adianta suscitar outra bobagem que virou lugar-comum a cada final de apuração dos votos: “se tivesse mais uma semana fulano virava (sic).”
Eleição, com data definida em anos de antecedência, é como competição olímpica: o atleta tem que se preparar para chegar no auge de sua forma àquele dia da competição. É um esforço para se atingir a plenitude de suas condições neuromusculares e psicológicas. Numa corrida de 1.500 metros não existe um metro a mais. São só 1.500 metros.
No corre-corre atrás do voto, do mesmo jeito. Não tem essa lorota de mais um dia ou mais uma semana.
Se formos medir por volume de gente, quem se saiu melhor entre as convenções de ontem (sábado, 30), em Mossoró, Cláudia Regina (DEM) ou Larissa Rosado (PSB)? A impressão do Blog é que a concorrente oposicionista levou ligeira vantagem, utilizando a mesma fórmula que a adversária governista, ou seja, uma enorme capacidade de mobilização (com transporte de pessoal em carros, ônibus etc.) e melhor organização.
Então, normalíssimo que ambas tenham galvanizado tanta atenção, incluindo curiosos e olheiros de lado a lado.
A mobilização de Cláudia Regina estava definida para as 15 horas, mas demorou a ‘decolar’, à espera das principais lideranças do grupo, ao Ginásio do Colégio Pequeno Príncipe (CPP). Terminou às 19h40. Já com Larissa, a mobilização anunciada para 14h, logo começou a aglomerar militantes na AABB. Seu encerramento aconteceu exatamente às 20h38. Quase uma hora após a realizada por Cláudia.
Convenção de Cláudia
No ginásio do CPP, Cláudia encerrou seu discurso com considerável desfalque no palanque e número bem modesto de manifestantes na quadra e arquibancadas. A governadora Rosalba Ciarlini (DEM), por exemplo, saiu bem antes. O lugar ficou em tom eminentemente agripinista (até na cor laranja, padrão visual adotado há anos pelo senador José Agripino-DEM). Quase nada lembrava o rosalbismo.
Além da candidata, Agripino, seu vice Wellington Filho (PMDB), a prefeita de direito Fátima Rosado (DEM), a “Fafá”, candidatos a vereador e alguns representantes partidários a ladeavam. A vice-prefeita Ruth Ciarlini (DEM), até citada pelos locutores, foi outro nomes a escafeder logo. No início da noite o quadro era outro, pois a quadra chegou a lotar, com a chegada de Rosalba, senador-ministro Garibaldi Filho (PMDB) e o próprio José Agripino.
Deputados federais João Maia (PR) e Betinho Rosado (DEM) – que atualmente é secretário da Agricultura – falaram antes e saíram. Felipe Maia (DEM) também compôs palanque. Henrique Alves (PMDB) não apareceu devido intensa agenda.
Um ponto negativo: o som em alguns pontos da quadra estava ininteligível, confuso. A acústica do lugar – ou a própria qualidade do sistema sonoro – não ajudou. Outro problema: desobedecendo legislação eleitoral, a coligação pulverizou a parte externa do ginásio com material de propaganda. A Justiça Eleitoral agiu com rigor e mandou cobrir tudo, in loco.
A coligação de Cláudia Regina adiantou que terá 112 candidatos a vereador através de 9 partidos: DEM, PMDB, PMN, PSL, PV, PSC, PR, PSDB e PTN.
Convenção de Larissa
Na convenção de Larissa, o ápice foi justamente no final. A deputada federal Sandra Rosado (PSB), a também deputada federal Fátima Bezerra (PT), a ex-governadora Wilma de Faria (PSB) e o candidato a vice-prefeito Josivan Barbosa (PT) estavam no palanque.
Antes ainda se manifestou a deputada estadual Márcia Maia (PSB). O vice-governador dissidente Robinson Faria (PSD) e o deputado federal Fábio Faria (PSD) não puderam comparecer.
Vários dirigentes partidários e candidatos prestigiaram o evento, que ganhou em espaço superlativo, graças ao aproveitamento de área de piscina do clube, com palco recuado para acomodar mais gente. Longo trecho da Avenida Presidente Dutra ficou ocupada de carros dos dois lados, bem como parte de ruas contíguas.
O sonorização funcionou a contento e houve um intenso banho de material de divulgação dos candidatos a vereador e da própria chapa majoritária.
A coligação com 14 partidos assegurou que terá 123 candidatos a vereador, através do PT, PDT, PT do B, PPS, PTC, PHS, PP, PRB, PTB, PSD, PC do B, PRP, PPL e PSB.
Programação visual
Numa avaliação preliminar, parece que a programação visual da campanha de Cláudia Regina ganhou no painel de palanque. Ficou de ótima composição, com close em que a candidata aparece de braços abertos, com fundo sintetizando um mosaico com vários rostos. Mas ‘estranhamente’ o espaço para o vice Wellington Filho é pífio. Só modesta citação dele como companheiro de chapa. Parece que realmente não pesa a favor da chapa.
Na convenção de Larissa, o que se viu foi uma confusa ideia de “mudança”. Há anos que a candidata empina o vermelho como cor básica. O painel de seu palanque estampou um verde que lembrava os tempos do aluizismo. Piorou a confusão, com a repetição da música “Vermelho” (Banda Cheiro de Amor) ecoando nas caixas de sonorização.
A metaformose não foi assimilada também pela militância. Houve um banho de camisas vermelhas na AABB. Parece que não a avisaram do giro de 180 graus. Nem a candidata se atreveu a abusar do verde, preferindo utilizar uma camisa branca por cima de uma blusa com sua nova cor.
Entretanto, é mais do que óbvio que o marketing pretende explorar bem a presença do vice Josivan Barbosa. Ele tem lugar equânanime à Larissa no programação visual. Sua foto tem destaque igual à candidata.
Slogan
O slogan de campanha da chapa majoritária de cada coligação tem foco distinto. Com a governista, a aposta é numa fórmula muito repetida por essas plagas: “Mossoró para todos”. A atual gestão há tempos usa o “Mossoró da Gente”. Há diferença? Significa que na administração Cláudia o governo será ampliado para o povo, porque com Fafá ficou só com familiares e apadrinhados do poder? Talvez o slogan coubesse com maior ideia de impacto na oposição.
Com Larissa, o marketing tenta a simplificação de mensagem, em tom convocatório, aproveitando a primeira sílaba de seu prenome, o “Lá”. Ficou o “Vamos Larissa!” Tem alguma sonoridade, mas em princípio diz pouco em relação a quem parte para sua terceira campanha consecutiva a prefeito.
Discurso
Com o microfone à mão, Larissa Rosado mostrou-se bem mais afiada. Discurso bem concatenado, dicção fluente e gestual sincronizado. Injetou frases e conceitos com alguma elouquência. Pulverizou dados sociais sobre o município e frases feitas. Assegurou que tem “ideias novas para velhos problemas”.
Cláudia, ao final da programação no CPP, mantinha um permanente sorriso. Mas não deslanchou na sua oratória, que foi baseada em agradecimentos e no pedido de união, sob a crença na vitória. Pode render mais. Mesmo assim, falou melhor do que Rosalba, que “entrou num oito” quando discursou e parecia não encontrar meio de sair.
As duas, Larissa e Cláudia, prometem uma campanha limpa. Excelente. Que possam agir com rapidez, para que os mais exacerbados não produzam algo em sentido inverso.
As cartas estão à mesa.
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