terça-feira, 20 de março de 2012

“VEREADOR NÃO TEM TEMPO PARA DORMIR” ,, EM MEMORIA A SEU PAI TITICO DO PICO CERSA AMORIM


Este pequeno relato é parte de uma singela obra bibliográfica que a inspiração e o orgulho estão me convencendo a produzir, apesar do tempo que tem sido muito curto devido à correria e a vida de um constante estudante que enfrentamos, já estamos bem adiantados, em um momento oportuno, com a graça de Deus confeccionaremos essa homenagem a TITICO DO PICO,

sobre SUA POESIA, SUA VIDA, SUA HISTÓRIA. Esta é uma forma de senti-lo vivo e ainda presente...

Pois bem...

15 Março, sexta feira, diferentemente das outras noites mossoroenses, hoje esta uma noite calma e tão fria que o orvalho, é visível nas superfícies com temperatura contrastante com a umidade do ar. Cansado, depois de chegar da UERN, me sento em frente à televisão para assistir o Globo Repórter, esta passando um documentário muito interessante sobre as formas de vida nas fabulosas florestas aciculifoliadas da Austrália.

Ao mesmo tempo em que vejo com muita atenção a reportagem, Daniel diz, “essa hora Painho deve tá assistindo, ele gosta destas coisas”, Rêmulo diz; “Pai também, quando as reportagens são de animais ele sempre assiste”. (Rêmulo e Daniel são grandes amigos com quem tenho o prazer de morar na Casa do estudante de Mossoró – CEM ).

       Neste momento, surge vagamente no teatro de minha mente, uma daquelas noites que me recordo com tanto prazer, Pai sentado no sofá em frente à Televisão e os pés em cima do centro. Sentava ali, todo a vontade e via o globo repórter como era de costume nas sextas feira. Já cansado depois de uma semana de correrias “caiu” no sono ali mesmo.


Eu o filho mais novo quando o vi ali dormindo, Imaginei; “Pai já deve esta dormindo, vou lá acordar ele e mandá-lo ir pra cama”.

Lá ia eu;
”Pai, Pai, o senhor já tá dormindo, vá para cama”...

E ele;
“Não, eu não tô dormindo não, tô só cochilando”...

Eu indagava, “E qual é a diferença?”.

Ele dizia;
 “Você já viu Vereador dormir meu filho?”...

Eu, pra dar uma de engaçado;
 “O senhor não é Vereador e ta dormindo!”...

Ele faz novamente a pergunta e ao mesmo tempo responde..

 “Eu só cochilo, quantas vezes você não esta acostumado a ver que quando eu tento dormir, sempre vem alguém e me acorda, e hoje eu não vou me deitar cedo porque estou esperando uma pessoa lá do Pico que vem de Natal e vai dormir aqui”...
          
Tomei a palavra e disse;
       “Há, sendo assim eu vou esperar com o senhor também”...

Respondeu;
   “Tá bom meu filho, sente aí e veja o globo repórter também”...

Sentei e fiquei ali assistindo até cochilar no sofá, lá pras altas horas da madrugada, já pertinho da ambulância com o pessoal chegar da capital, acordo, procuro ele e não o vejo no sofá, estico um pouco o pescoço e percebo que está sentado na mesa da segunda sala escrevendo em um pequeno
caderninho, caminho até as proximidades de mesa e chegando lá, todo desconfiado e curioso,

Digo;
 “O que é isso Pai?”...
Ele diz;
 “São umas coisas que estou notando aqui para não esquecer”...

Curioso e calado e sem saber o que estava escrito ali naquela agenda, saio e vou cambaleando de sono em direção ao sofá de novo. Quando vou me deitando escuto o barulho da buzina da ambulância.

“Pai o carro chegou”. Digo eu.
    
     Ele responde;
             “Diga que já vou”...
      
Imediatamente saiu para dizer ao motorista (Não me recordo quem era porque a Ambulância era a de Frutuoso Gomes - cidade vizinha - ele tinha solicitado porque a de Antônio Martins tinha quebrado) que esperasse um pouco.

       Pouco tempo depois, Pai caminha lentamente até a porta para receber o povo, eu lá por fora todo curioso, já havia feito toda uma espécie de vistoria na ambulância, permanecia por ali como menino traquino. Eles lá, conversa vai, conversa vem... É quando Pai me chama e...

Diz;

  “César, vá até à mesa , abra aquele caderninho e me traga um dinheiro que tem dentro dele.” (Era o dinheiro para dar uma gratificação ao motorista).
         
“Está certo”, respondi...
      

Caminhei até a sala para pegar o dinheiro nesse bem dito caderno que tanto eu tinha curiosidade de saber o que escondia em suas folhas, chegando lá aproveito para ver sem a sua permissão o que tinha ali.

Começo a ler a pagina aberta; “um botijão de fulano, uma conta de luz de cicrano, mandar buscar a mulher de fulano para a consulta”..

       Eram tantas pequenas coisas que minha simples memória de criança não arquivou tudo em suas gavetas invisíveis.

       Pois bem, corro lá para entregar o dinheiro e,

Digo;

   “Mas o senhor deixa de dormir para ficar anotando coisa que poderia ter anotado durante o dia?”...

Ele responde com ar de riso para mim e para o motorista;
   “Eu lhe falei que vereador não tinha tempo para dormir”...

 “Passado é o que passou, não passou o que ficou na memória ou no bronze da história”.                                                  - Ulisses Guimarães

Cesar Amorim : Antônio-martinense, Estudante do sexto período do curso de Direito Pela UERN/ Professor de História do Brasil.

Direitos Reservados: Os textos podem ser reproduzidos, desde que citados o autor e a obra (Código Penal, art.184; Lei 9610/98, art. 5° VII).

 Cesar de Titico

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