Filho e afilhada doaram parte dos fígados para salvar o assessor de informática Darci Bladt no Paraná
Darci (o segundo à esquerda) reúne-se com a família após dois meses do transplante; Nathanael (à direita) é um dos doadores Arquivo Pessoal
Assessor de informática em uma cooperativa de Capanema, no interior do Paraná, Darci Bladt, de 52 anos, não imaginava que abusava do álcool a ponto de ter uma cirrose hepática. Os médicos não deram outra solução a não ser um transplante de fígado. Ele só não imaginava que o filho e a sobrinha, que também é sua afilhada, seriam seus heróis.
“Foi uma surpresa quando me disseram que a melhor opção era encontrar dois doadores vivos”, disse Bladt. Segundo o cirurgião do Hospital Angelina Caron e do ICF (Instituto para o Cuidado do Fígado), Fábio Porto, o transplante inter-vivos de fígado já era realizado no Brasil, mas a utilização de dois doadores para o mesmo receptor foi inédita.
“A medida é uma alternativa para a falta de doadores cadáveres na região. Com o filho e a sobrinha do paciente, pudemos retirar uma porção menor do órgão de cada um e tornar a cirurgia mais segura”, explicou o especialista.
Entretanto, Porto alerta que os riscos existem. “São três internações, o cuidado e a complexidade são multiplicadas por três também”.
Uma medalha
Dois meses após o transplante, a sobrinha e o filho de Darci Bladt já estão trabalhando e o paciente se recupera bem. De acordo com o assessor de informática, os dois doadores são motivo de orgulho para ele.
“Minha sobrinha me disse, logo após a cirurgia, que se precisasse repetir tudo novamente ela faria”, disse. Já o filho, depois de recuperado, homenageou o pai. “Eu não carrego uma cicatriz, mas, sim, uma medalha”, completou emocionado.
Tamanha preocupação e carinho fez com que Bladt fizesse uma promessa. “Nunca mais coloco uma gota de álcool na boca”, afirmou com convicção. O medo de perder o limite novamente e a vontade de voltar a fazer o que fazia antes são maiores.
“Não vejo a hora de comer melancia de novo. Só posso ingerir alimentos cozidos e nada das frutas que mais gosto. Além disso, não vejo a hora de voltar a trabalhar”.
O transplante de fígado inter-vivos
Segundo Porto, o transplante inter-vivos não é a melhor escolha na medicina. Para ele, o ideal é que houvesse mais órgãos de cadáveres para a realização dos procedimentos. Contudo, há pacientes graves que não conseguem doadores a tempo. “É aí que indicamos o transplante
Uma vantagem da cirurgia no fígado é que a possibilidade de rejeição é pequena, de acordo com o especialista. “Basta ter o mesmo tipo sanguíneo para ser um potencial doador”, disse.
Ao contrário, o que pode ser um complicador é a porção a ser doada. Porto explica que é preciso saber se o doador consegue viver bem com a parte restante do órgão e se o receptor consegue responder bem ao tratamento com aquela doação.
“O quadro de Darci Bladt mudou exatamente por conta disso. Seu filho não poderia doar uma grande parcela do fígado e, então, a sobrinha participou como outra doadora”, afirmou.
A história do morador de Capanema, no interior do Paraná, terminou bem. Os familiares e ele se recuperam dentro do tempo esperado. “Foi necessário apenas seis semanas para que 90% do fígado dos doadores se regenerasse em 90%. O paciente precisa de mais, mas está no caminho certo”, completou o cirurgião
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