Clube catarinense tinha interesse em goleiro do Londrina para Série A, mas conversa cessou quando foi revelado que ele não poderia treinar ou jogar na sexta e no sábado
19/01/2016 13h09 - Atualizado em 19/01/2016 19h20
Por Rodrigo Saviani e Fernando Araújo
Londrina
Vitor ganhou destaque com um dos melhores da Série C (Foto: Robson Vilela/Site oficial do Londrina)
A escolha pela religião Adventista impediu que o goleiro Vitor, do Londrina, fosse jogar a Série A do Brasileiro pela Chapecoense em 2016. O jogador foi procurado pela equipe catarinense durante as férias de dezembro, mas a negociação não prosperou quando ele contou que não poderia treinar ou jogar entre a noite de sexta-feira e o sábado. A restrição religiosa de Vitor deve obrigar o Londrina a fazer um revezamento de goleiros na temporada.
O vice-presidente de futebol da Chapecoense, Mauro Stumpf, contou que a boa atuação do goleiro durante a Série C do Brasileiro chamou a atenção do time e a negociação começou durante o período de recesso. Stumpf ligou para o gestor do Londrina, Sérgio Malucelli, fez a proposta, que gostou do negócio, mas, para surpresa de todos, não encontrou Vitor motivado.
- Nós conversamos com o Sérgio (Malucelli, gestor do Londrina) sobre a possibilidade de trazer o Vitor para jogar Série A com um salário melhor que no Londrina e tal. Começamos a negociação, mas ela estava se tornando difícil. O Sérgio concordava com as condições e passava para o atleta, que não estava aceitando, lembra Stumpf.
Nem eu, nem o Sérgio (Malucelli) não entendíamos o motivo. Série A com salário melhor e ele não estava aceitando. Até que o Sergio me ligou e contou
Mauro Stumpf, dirigente da Chapecoense
O dirigente catarinense contou que não entendia o motivo das negativas. Durante a conversa, ouvia que goleiro dizia estar se sentindo bem em Londrina e sem interesse na transferência. O verdadeiro motivo veio somente depois de uma terceira tentativa.
- Nem eu, nem o Sérgio entendíamos o motivo. Série A com salário melhor e ele não estava aceitando. Até que o Sergio me ligou e contou que, durante as férias, ele entrou numa religião que não pode trabalhar no sábado. O próprio Sérgio não sabia e ficou sabendo através da negociação, completou o dirigente.
As negociações foram encerradas a partir daquele momento. Para Stumpf, a impossibilidade de Vitor treinar ou jogar no sábado impede a contratação. O dirigente ressaltou que não tem nada contra a religião, mas lembrou que a profissão de jogador obriga que ele esteja à disposição nos sábados.
- Fiquei surpreso. É a primeira vez que vejo isso. Não tenho nada contra a religião, mas, por ele ser um jogador, fica muito complicado. Não poder contar com ele em determinado momento, para nós, ficava complicado. Imagina ficar fora de um jogo decisivo por causa da religião.
Caso fosse contratado pela Chapecoense, Vitor seguiria os passos do goleiro Danilo, atual titular da equipe catarinense e que foi goleiro do Londrina antes de sua chegada.
- Foi considerado um dos melhores goleiros da Série C e soube que é um excelente profissional em todos os sentidos. Era um goleiro que nos interessava, completou Stumpf.
Coletiva sobre o assunto é adiada
A situação de Vitor no Londrina está sendo tratada de forma sigilosa pela diretoria e o jogador, que não aceitaram falar sobre o assunto na última segunda-feira. Uma entrevista coletiva estava marcada para esta terça-feira, mas ela foi adiada para quarta-feira.
O GloboEsporte.com apurou que o contrato de Vitor termina no mês de maio, mas ele deve ser renovado pelo Londrina até o final do ano. O clube deve adotar um revezamento de goleiros para poder atender os compromissos do time que, além do Paranaense, joga neste ano a Copa do Brasil e a Série B do Brasileiro, que tem todos os jogos previstos para terça, sexta-feira e sábado.
Entenda por que os adventistas guardam o sábado
A religião da Igreja Adventista do Sétimo Dia preconiza que o mundo foi criado por Deus em seis dias e o sétimo - no caso o sábado, pois o Domingo é o primeiro dia - é destinado para repouso e culto. Os adeptos da religião não podem realizar atividades como trabalhar, estudar ou fazer festividades.